quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Episódio 0 - razões para conhecer o Mundo

a ideia de passar por muitos países sempre me acompanhou desde pequeno. gostava de falar com pessoas que já tivessem viajado e conhecido muitos sítios. chegava mesmo a contar por quantos países tinham passado e a fazer uma espécie de campeonato entre todos.
lembro-me uma vez de, à conversa com o meu Pai, teria eu os meus 10 ou 11 anos, ficar deslumbrado com a sua passagem por Paris. imaginei-o num Mundo completamente diferente, com pessoas diferentes, paisagens diferentes, lingua diferente e na sua necessidade de comunicação alternativa para resolver as situações mais vulgares.
aos 16 conheci o então campeão viajante. um amigo de encontros casuais, próprios da convivência de grupos da adolescência. era conhecido por Magoo, como a personagem Mr.Magoo. não que tivesse problemas de visão, antes pelo contrário. a sua visão tornou-se global e aberta, fruto da sua passagem pelos 4 cantos da Europa e pela sua ambição de alastrar a sua conquista ao Mundo inteiro.
o Magoo viajava muito de comboio. fazia inter-rail, às vezes dois meses seguidos, com dinheiro que nunca percebi como conseguia. às vezes pedia boleia mas mantinha sempre um discurso despreocupado quanto às armadilhas do dia-a-dia. onde comer e dormir parecia, te todo, o menos importante nas suas viagens.
importante mesmo eram as suas descobertas e a cobertura mais vasta possível do terreno global.
reparei que os truques se aprendiam no caminho, conforme surgiam as dificuldades ou as necessidades. para uma pessoa habituada a prevêr todo o tipo de acidentes, tudo aquilo me parecia quase absurdo e aterradoramente irresponsável. achava mesmo que colocava a sua vida em perigo apesar de a recompensa ser maravilhosa. era como costruir um curriculum e deixar a sua pegada em toda a parte. era um prémio valiosíssimo.
já quando frequentava a faculdade tinha um colega chamado Gastão. outra personagem da banda desenhada cujo título de sortudo só podia ter um significado. o Gastão não demonstrava ser propriamente abastado financeiramente mas nem por isso deixou de experienciar a aventura do inter-rail. partiu com poucos recursos monetários mas muitos mantimentos e, pelo caminho, trabalhava: na apanha de morangos; vindimas. enfim, no que o caminho lhe propunha.
decerto tinha planos prévios antes de partir mas não me ocorria tal observação. na minha cabeça só passava o facto de que ele ia fossem quais fossem as dificuldades.
a tudo isto, e aliado à minha vontade de querer ir longe, tão longe quanto possível, varrendo todo o espaço pisável, juntou-se a minha relação com a Patrícia, com quem comecei a namorar aos 16 e cujo espírito me abriu o caminho da conquista. a certeza que depositava em mim garantia-me que era capaz ou que teria de demonstrar que era capaz. afinal, também a Patrícia queria pisar o Mundo todo, também ela conheceu o Magoo e o Gastão e outros que se nos cruzaram pelo caminho conjunto.

Nota introdutória

O título que eu queria dar a este conjunto de episódios, que mais tarde esperarei que se tornem numa espécie de obra, não era propriamente este mas "Da queda do muro de Berlim à queda das Twin Towers de New York".
título grande, tão grande que não cabia no título do blog, onde tudo isto começa.
a idéia de escrever sobre as minhas viagens é relativamente antiga e associa-se à necessidade de escrever com algum teor de interesse público. se terá ou não, pouco me importa. o que me importa é levar a cabo esta vontade até ao fim.
as minhas viagens não começaram quando o muro de Berlim caiu nem terminaram quando as torres foram abaixo, no entanto a década de 90 foi a mais rica em aventuras relacionadas com a minha descoberta do Mundo, sobretudo da Europa, e também a mais rica, por mim vivida, em mudanças globais.
começava o fim da era Soviética, começava a expectativa de progresso em Portugal, aparecia a internet, o telemóvel, as caixas ATM e a moeda única europeia para combater o dólar.
agregação de territórios aqui, desagregação ali, mudanças constantes e cada vez mais rápidas. o ritmo da evolução social torna-se frenético e quase descontrolado.
durante esta década fartei-me de passear pelo Mundo. não tanto como desejaria no meu íntimo mas tanto quanto os meus medos e as minhas possibilidades permitiram.
é sobre estes momentos que vou escrever e ilustrar.
os momentos de descoberta
de corpo presente
e de mudança global envolvente