sábado, 31 de janeiro de 2009

Episódio 2 - continuação




O primeiro percurso, em 1991. Era para durar uns 15 dias, acabou por ser o mês todo!


1º de Agosto, "é amanhã...e tudo em mim é um fogo-posto".

Bem ao jeito de Xutos, partimos:

eu a Patrícia e a Tânia. Bem juntinhos!


















Saída de Lisboa - Santa Apolónia - 1 de Agosto de 1991

1 - Lisboa - Madrid


2- Madrid - Barcelona


3- Barcelona - Genéve


4 - Genéve - Veneza (via Lausanne)


5 - Veneza - Innsbruck


6 - Innsbruck - Salzburg


7 - Salzburg - Berlin (via Munchen)


8 - Berlin - Amsterdam (via Amersfoort)


9 - Amsterdam - Brussels


10 - Brussels - Luxembourg


11 - Luxemburg - Paris (via Metz)


12 - Paris - Lisboa



A minha missão fora cumprida no instante em que cheguei a Berlin. No puro auge da reunificação, ali estava eu a testemunhar com os meus próprios olhos o que esta significava às pessoas, numa análise tão precoce quanto os 8 meses passados que nem deram tempo de derrubar a totalidade do muro. Sim, ainda vi partes do muro de Berlim conforme ele era!


chegada a Berlin - Zoo
14 de Agosto de 1991,

dia de anos do meu Pai,
se fosse vivo faria 45 anos neste dia,
os mesmos que o fim da 2ªGrande Guerra.



Não era esta o meu objectivo de início, contemplar este sentimento, mas aconteceu o tal "arrepio" quando me deparei com as



Portas de Bradenburgo.


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Episódio 2 - A queda do muro de Berlim

O ano é 1991. O muro acabou de cair, no papel e, fora dele, umas partes foram também abaixo. Gorbatchev sai com uma missão cumprida difícil de ser aceite pelas profundas raízes instaladas na Grande União Soviética. Aqui e ali surgem as primeiras maifestações de independência e o surgimento de novos velhos países. A última década do século XX numa azáfama de crises de identidade cultural e de soberanias. A guerra na Europa é uma realidade quase inacreditável. Quem esperava que a Jugoslávia, de repente e a pretexto de não sei bem o quê senão da posse de território geograficamente estratégico, pudesse dividir-se em meia dúzia de pequenas culturas divididas por linhas. Quem diria que, no ano em que a internet aparece, ainda a medo e em jeito de experiência, a globalização tomaria um rumo inverso, o da separação violenta.
Nada disto abalou a minha vontade de conquistar a Terra e de querer pisar todos os metros quadrados pisáveis. A idéia de arrancar pela Europa de combóio era já uma realidade alcançável e, logo em Janeiro começaram a ser traçados os primeiros planos para uma das viagens mais inesquecíveis que fiz.
Orçamentos, locais, condições, necessidades, possibilidades. Palavras-chave para dar crédito à viagem.
Em 1991 não havia multibanco, cada país europeu tinha a sua própria moeda, não haviam telemóveis nem internet. Dito isto agora, em pleno século XXI, parece que estávamos na pré-história da sociedade ocidental. A verdade não está muito longe desta afirmação. Na prática, a Era tecnológica desabrochou no decorrer desta década de 90 que ainda agora estava a começar.
(continua brevemente)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Episódio 1 - A Aventura antes de 1991

A descoberta da Terra pelos meus próprios pés havia começado efectivamente quando primeiro visitei Inglaterra. Parti, de avião, na companhia de uma hospedeira e voei sozinho apesar dos meus 1o anos parecerem poucos para tal aventura. Correu tudo bem. À chegada estava o meu tio Tó e logo segui com ele depois de terem recuperado o meu passaporte que tinha ficado esquecido no avião. Provei logo que estava atento e senti uma grande confiança na minha capacidade de ser responsável.
Lá fomos rumo a Portsmouth, Southsea mais exactamente. Cheguei e instalei-me na casa dos meus tios e primo pouco mais velho. Estive lá mais de um mês. A tempo de ir à escola acompanhar o meu primo e ver como era ir à escola em Inglaterra. Tudo diferente. Alunos fardados, portão fechado, aulas mistas com alunos distribuidos, não por turmas mas por disciplinas, piscina, sextas-feiras de festa, aulas com alunos atentos e disciplinados quase por natureza. Enfim, um mundo distante do que experienciava em Lisboa.
Muitos dos alunos iam de bicicleta para a escola. Havia um parque de estacionamento que guardava dezenas de bicicletas e não importava que chovesse ou fizesse frio.
Nas aulas, para além das tradicionais matemática, ciências e afins, havia possibilidade de aprender música, incluindo a escolha de um instrumento para aprender a tocar; a cozinhar, com laboratórios munidos de fornos e apetrechos de cozinha; teatro; desporto, incluindo algumas modalidades em particular, como o hóquei em campo. Tudo ao gosto do indivíduo-aluno e nada de obrigações a não ser o elementar.
Fora da escola até a pequena Southsea parecia maior que Lisboa. Até havia McDonald´s e armazéns do tipo centro comercial. Uma verdadeira sociedade ocidental, contrária do masoquista atraso de vida que se vivia em Portugal no início dos anos 80.
Os meus tios levaram-me também a conhecer um parque temático, quase ao jeito da Disneyland mas em ponto mais pequeno. Para mim era uma miragem. Nem acreditava que tal existisse na realidade.
Também fomos à Isle of Wight, de ferry, visitar, entre outras coisas o palácio da Rainha na ilha.
Fantástico mesmo foram as visitas a Londres. Aí sim fiquei abismado. Enorme, com milhões de pessoas, lojas, quer dizer, a Hemleys na Oxford street é, sem dúvida, "a" loja para um miúdo de 10 anos.
Lá fomos, Hyde Park, Madame Tussaud, National History, Soho... assimilando tão depressa quanto possível tudo o que conseguia ver. O Buckingham e os guardas de chapéu preto, os punks espalhados pelos jardins e recantos, os autocarros vermelhos e os táxis pretos. Ficou tudo gravado no meu cérebro.
Estamos em 1983 e a minha viagem apenas começou!
No regresso a Lisboa cantaram-me os parabéns pelos meus 11 anos e eu senti-me uma pessoa diferente.
Só voltaria a sair da casquinha portuguesa em 1989. Pelo caminho ficaram umas breves visitas à vizinha Espanha.
Em 89 comecei a namorar com a Patrícia e em Julho fomos numa excursão organizada pela escola onde a mãe dela era professora. Foi à Bélgica e o objectivo era praticar desporto numa colónia de férias.
Foi diferente. Viajámos em grupo, num autocarro cedido pela Câmara Municipal e demorámos quase 3 dias a chegar a Blackenberge, terrinha costeira com atracções do tipo de estancias veraneantes. A diversão misturou-se com a possibilidade de estar fora, num país diferente. O facto de sermos muitos portugueses dificultou a minha necessidade de integração com os locais. Também a presença da Patrícia e de um namoro ainda fresco mas já com problemas vividos tornou estes 15 dias numa sucessão de acontecimentos de franca tentativa de reconciliação e de avaliação da relação.
Um dos melhores momentos aconteceu quando fomos, de bicicleta, percorrer um trajecto de cerca de 20km que nos levaria à vila fronteiriça com a Holanda. Parecia que já conhecia aquela vida. O paraíso da ocientalização e da civilização unidos por meio milhar de pessoas. A Holanda fascinou-me de imediato e ainda estava numa vilazita cujo nome já nem me lembro. Ficou decidido que havia de voltar a este país.
Regressámos a Portugal, passou mais um ano e, no verão seguinte, de 1990, lá voltámos à Bélgica nos mesmos moldes mas para outro local. Este ficava mais perto de Gent e as actividades desportivas centravam-se muito com a utilização de um lago artificial e com as modalidades ligadas à água: windsurf, vela e kayak. Foi giro aprender tudo isto e mais divertido ainda viver aqueles momentos próprios de um grupo de adolescentes ao jeito "Porky´s". Poucos se atreviam a adormecer primeiro sob pena de serem vítimas de tropelias como levar com pasta dos dentes entre os lábios e com um cigarro lá colocado. Ou ser transportado, em pleno sono, junto com o colchão, para fora das camaratas e acordar em pleno ar livre, naturalmente fresco à moda do norte.
De manhã cedo, às 7, éramos acordados pelo toque de um sino. Vestir, lavar e caminhar para o refeitório, a tempo de um reconfortante pequeno almoço. Na última noite escondi o sino e no último dia acordámos um pouco mais tarde.
A viagem de regresso foi interessante. Tivémos oportunidade de passar umas horas em Paris. Sempre quis conhecer Paris. Pena que a companhia dos 4 ou 5 miúdos que escolhi para seguir não fosse tão produtiva quando o desejado. No entanto lá fui caminhando pelas ruas e não me perdi. Havia de lá voltar também.
Nesta altura as fronteiras entre países europeus funcionavam a todo o gás. Mas o mais engraçado foi atravessar de Espanha para Portugal com todos a empurrar o autocarro que parecia mais exausto que nós.
O regresso, mais uma vez, foi angustiante. Não queria que tudo terminasse já. "Para o ano voltarei a sair", pensei eu com a certeza de ter já um objectivo a alcançar.
Destas passagens pela Bélgica ficaram as imagens de Antuérpia, Gent, Bruxelas e mais algumas pequenas cidades onde a cerveja acabava por ser o tema central. A visita a Bruxelas foi aquela que me fez sentir turista de facto (mas sem gravata). Portugal era agora um país a caminho da Europeização e esta era a capital da Europa! O modelo!
Serviram estas visitas também para me habituar aos câmbios de moeda. Até aqui era simples pois ir a Espanha e usar a Peseta não tinha muito que pensar. O Escudo ainda era mais forte que a Peseta. Sim é verdade, isso aconteceu! Aqui na Bélgica e na breve passagem por França e pela Holanda apercebi-me da piada que é passar o tempo a fazer contas para saber se era mais caro ou mais barato que em Portugal. Os Florins (Guilder), e os Francos Belgas e Franceses mexeram muito com a minha capacidade de fazer contas rapidamente e de cabeça. E como não haviam caixas de multibanco (ATM) tinhamos mesmo de negociar com os bancos ou com os locais de troca de moedas para garantir um câmbio favorável.
A preparação para a aventura estava feita, os medos estavam vencidos e eu estava pronto para pisar mais países. 1991 vinha aí com imensas surpresas.