A viagem havia começado, via Madrid, em Barcelona. Chegámos tarde e não havia mais ligações. Ao ver que não éramos os únicos, procurámos um canto dentro da estação para esticar os sacos-cama e repousar. Nem 15 minutos passavam e já a polícia nos convidava a sair da estação para que pudesse ser fechada e limpa. Os sacos-cama passaram para a rua, para a praça em frente a Barcelona-Sants. Aqui ficaram mais de 20 desprevenidos com sacos-cama esticados. Juntaram-se dois italianos, um casal, e ali ficámos a conversar e a aprender caminhos para alcançar Venezia rapidamente. Na manhã seguinte rumámos a Genéve. passaram algumas horas e logo seguimos para Lausanne, onde encontraríamos ligação direta a Venezia. Lausanne pareceu-me uma Coimbra, atulhada de gente com idade para ser estudante universitário mas com recursos dferentes. Era evidente a quantidade de dinheiro que por ali se ganhava e gastava. A comprovar as diferenças estavam os milkshake´s do Mc Donald´s que custavam o mesmo que um almoço num qualquer restaurante lisboeta. Tomei um...milkshake!
Hora de entrar no comboio outra vez e avançar até à primeira paragem prevista, Venezia.
Os italianos em Barcelona ensinaram-nos que ficando em Mestre (Venezia) pouparíamos bastante dinheiro na estadia e dali a Santa-Luzia (a Venezia que todos conhecem) era um pulo de 5 min de comboio.
Chegámos de manhã, após a noite passada num compartimento de comboio suiço. Não demorou muito a encontrar um alberggo com um quarto para os 3. Bem mais barato que o previsto, graças aos italianos de Barcelona.
Das mochilas sairam os púcaros e as latas de comida e logo se fez uma festa no quarto. Era um facto, estava ali, longe de tudo, num quarto alugado, em Venezia! Uma vitória foi o que senti!
Ficámos aqui 3 dias e andámos por todas as ruas de Santa Luzia. A praça de São Marco, as gôndolas, as pontes, os canais, as gentes de todo o mundo. Tudo era magnífico. O dinheiro não dava para grandes aventuras mas foi engraçado vaguear aleatóriamente por Santa Luzia. Na última noite decidimos apanhar um vaporetto que atravessava alguns dos maiores canais e que nos levava à estação de comboios. Tivémos uma surpresa e o último comboio já havia partido. Esperámos até às 5 da manhã para poder fazer o trajeto de 5 minutos de volta ao alberggo em Mestre. A escadaria em frente à estação serviu-nos de palco para conhecer mais um italiano que estava curioso com a nossa origem e nós com a sua curiosidade. Bom, habituado a escadarias, eu já estava. Na tarde anterior, após um belo almoço de fatias de pizza do quiosque, fiz uma bela sesta à entrada de uma pequena igreja que ficava no fundo de uma das ruas que terminavam no canal, sem saída portanto. Acordei quando a missa ia começar e as pessoas queriam subir as escadas. Foi o mais próximo que tive de me sentir um mendigo.
Após uma noite em branco, lá fomos de volta ao alberggo, arrumar a mochila e cochilar um pouco para partir de novo. Era hora de conhecer a Áustria e a cidade natal de Mozart, Salzburg.
as minhas viagens pela Europa na década de 90 como pretexto para uma visão da evolução do território, alargado ao mundo inteiro numa era de globalização tecnológica. Da Queda do Muro de Berlim, no início da década, até à Queda das Twin Towers de N.Y.. A última década do sec. XX revisitada agora.
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